Caro manolo
Confesso que fiquei triste com a derrota de ontem, com o Benfica. O Sporting, como era previsível, entrou brioso e autoritário. Empurrou o Benfica para a sua rectaguarda, num domínio que nem Gabriel Alves se atreveria a afirmar ser consentido pelo adversário: é que, se eu estivesse enganado, as bolas não andariam ali à beirinha de entrar. O guarda-redes está lá para defender, eu sei, mas uma verdade não invalida a outra. Um excelente Moreira não invalida uma grande sorte.O Benfica lá foi fazendo o que conseguia fazer, também não podemos dizer que não ameaçou, mas ameaçou bastante menos. Miguel Garcia secou Simão, Sokota aprendeu com Polga a ser sossegadinho e, sem surpresa, os "super-trincos" seleccionáveis por 60% do País (refiro-me a Petit e a Tiago) pareceram as "pombinhas da Catrina" perante Tinga e Paulo Bento. Nuno Gomes compôs bastante o cabelo e Luisão e Ricardo Rocha ainda hoje devem estar para perceber como chegaram ao fim do jogo sem terem encaixado 3 golos no galináceo bestunto.
Quase no fim, o Benfica marcou um golo. Um grande golo. E ganhou um jogo que, porque mais golos não houve, mereceu ganhar. Pelos vistos é assim, e assim deve ser. Foi o que Camacho disse, aliás: quem marca merece sempre ganhar. Isto tem uma lógica poderosa, admito, mas apenas se for para legitimar a sorte que se teve. É um discurso para consumo interno. Leia-se "para seis-milhões-de pessoas". Espero que o mantenha em ocasiões futuras e, mesmo, na adversidade.
Uma dessas pessoas, um desses "seis milhões" de legionários, és tu, manolo. E sugeres-me os clássicos "Bês" alemães (esqueceste-te de Bach, reparei nisso, mas lá me trouxeste o Brahms, obrigado), transcreves-me poemetos de Gedeão e Pessoa (eu detesto poesia sem música, gosto de prosa, gosto de música, gosto de poesia com música, de poesia só e de poetas só, não, desculpa lá, a poesia declamada soa-me sempre a palavras enfeitadas de si, desculpa, a culpa é minha, eu sei, burro besugo) e, no gozo, sacanita, mostras-te solidário com o meu desgosto.
A verdade é só uma, Manolo: o Benfica ganhou porque teve sorte, muita sorte. O Sporting jogou melhor, merecia ter ganho o jogo. Melhor: merecia não o ter perdido, pelo menos. Eu não sou um tecnocrata da bola, como alguns portistas, que pensam que a equipa deles é uma máquina quase infalível, que funciona a óleo, a competência e a inspiração divina. Eu bem lhes vejo as "engasgadelas no motor", o que se engasgam é menos e a oficina fica-lhes de borla.
Não me venhas tu, em resposta, com o peso da tradição, que tradição tem o azeite Galo. Nem com merdas científicas aplicadas ao futebol. Faz-me esse favor, homem! Já nos basta um Mourinho, não precisamos de dois.
Já ganhámos muitos jogos com sorte, ou por "nuances". E eu vim aqui dizer. Já perdemos muitos com azar, ou por gatunagem. E eu também digo, ora!
Por isso, agora, é tempo de dizeres aos teus 5.999.999 amigos eufóricos para se calarem um bocadinho com essa coisa da puta da bola, por respeito e por um bocadinho de pudor. Diz-lhes que tiveram uma leiteira grandiosa, diz-lhes o que viste.
E atenção: não extrapoles para "a grande saga benfiquista dos anos sessenta e setenta", pelo amor de Deus, que isso já lá vai e, acima de tudo, ontem não tiveste saga, tiveste caga.
Pardon my french.
Um abraço.
E sugiro-te a 10, do ZMB. Começa logo, é só fazeres clique, é fácil.
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