Crónicas antigas
A primeira impressão com que se fica é de estranheza. Falta terra e sobra mar.Depois, com o tempo, percebe-se que o mar nunca sobra. A terra é que pode faltar. Mas, também, para quê tanta terra, às vezes? Basta a terra que há, se o mar for muito e a terra boa. E a gente, gente.
Vivi em S. Miguel durante um ano. Em Ponta Delgada, numa rua ladrilhada, junto às Portas da Cidade. Colado à Machado dos Santos, a rua de quase tudo, e vizinho da Avenida, que ainda acabava na zona das piscinas (as antigas), não chegava à Calheta. Não havia o Hotel grande, havia o Sol-Mar, que destoava das colinas sem as atraiçoar completamente.
Fui para S. Miguel aprender a ser internista, no velho Hospital do Campo de S. Francisco, de fachada verde-clara, quase paredes meias com a Igreja onde descansa o Senhor Santo Cristo. Tinha 28 anos, eu. São Miguel é mais antiga, aprende-se tanto com quem é mais velho!
Houve colegas meus que não foram, ficaram cá à espera do ano a seguir. Eu fui. Fui ganhar o ano que me faltava para não ter de esperar mais. Ganhei um ano e ganhei-me, um pedaço, ali.
Conheci o Goulart, que é faialense e tem a lentidão esperta dos calmos. O Humberto, que sei ser intensivista de categoria, e que nunca mais vi. Trabalhei com o Anahory, o meu chefe, uma excelência simples, finalmente reconhecida. E tantos outros, os amigos da Rua d'Água e os da Rua da Misericórdia, o Eduíno, a Elsa. O Professor José, de Vila Franca...
Isto é uma espécie de prelúdio do que não sei se vou chegar a escrever mas que me mexe com as entranhas sempre que o penso. Vou linkar outra vez: foram estes senhores que me lembraram desta parte de mim.
Leio nomes como António José de Almeida, Decq... e regresso lá, às ilhas de bruma. Fico cinzento e verde, aguado.
Fico bem.
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