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18.12.03

A fonte

A TVI interrogou-se, hoje, sobre um intrincado problema. Equacionou-o assim, mais ou menos:
"Há falta de médicos em Portugal. Tanto assim é que se contratam cada vez mais clínicos espanhóis. Mesmo assim, estudantes portugueses (com altas médias no ensino secundário) que querem licenciar-se em Medicina, não entram en Universidades portuguesas! E alguns vão licenciar-se em Espanha!".

Seria útil a TVI convidar a senhora doutora Leonor Beleza (esta à cabeça, a intolerante "menina bimbas" do primeiro cavaquistão) e todos os ministros da Saúde que lhe sucederam, para debater isto. Mais do que ouvir os estudantes desterrados, que são uma outra vertente do problema, importante, mas diversa.

Eu, à Dra. Leonor Beleza, até devia perdoar tudo. Ela foi a responsável, em 1988, pela minha ida para os Açores, para aí iniciar a minha especialização. E eu vivi muito bem nos Açores, durante um ano. Muito bem mesmo.
Só que, nesse ano, para um contingente de médicos concorrentes que rondava os 3.000 (os que fizeram exame de acesso à especialidade), a senhora doutora disponibilizou 500 vagas, sendo cerca de 300 destinadas à carreira de Clínica Geral. Sobejavam cerca de duzentas para as especialidades hospitalares. Por isso me insularizei, com gosto.
A senhora doutora, surdinha a qualquer conselho que lhe surgisse de fora do cavaquistão, achava que havia médicos a mais. E que estes quinhentos "privilegiados" seriam os últimos a ter lugar no Sistema Nacional de Saúde, quase que por especial favor. Assim se fez, só que ela enganou-se. Fez mal as contas. Não contou bem. Foi mil vezes pior que Guterres no dia em que se enganou nas contas do PIB, em directo. Nenhum dos 2500 médicos que ficaram de fora deixou de entrar, mais cedo ou mais tarde. E a senhora doutora contribuiu, largamente, para a adulteração do tal Sistema que parecia defender, tornando-o ainda mais promíscuo. Isto para não falar do que fez aos médicos em geral, descredibilizando-os injusta e aleivosamente, antes de ser encostada na prateleira dourada do PSD por indecente e má figura. Ainda hoje assoma, de vez em quando, esganiçadita, dos fundos do tempo. Mas a praga que lhe roguei tem sido mais forte. E Deus queira que assim continue, a bem da Nação.

Bom, a TVI deveria promover este debate. Em vez de perguntar a estudantes portugueses de Medicina em Salamanca o que pensam de dois sistemas de saúde que não conhecem (o português e o espanhol), tentando analisar "cernes de questões" através de olhos inexperientes (e injustiçados, obviamente, mas sobretudo desconhecedores do que ultrapassa a realidade académica!), a TVI podia ir beber à fonte.
E foi ali que tudo começou. Na fonte. Na mulher Leonor que se cuidava olímpica nos mínimos que não possuia. Eu digo isto com desassombro mas com muita calma, sosseguem. E o problema da formação em Portugal e em Espanha é outra conversa, embora muito paralela. Fica para outra altura.

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