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12.12.03

Douro I

Quem, por estas alturas, percorrer os caminhos do Douro arrisca-se a dar de caras com algumas das mais poderosas imagens que esta terra tem para oferecer.
Hoje, que tive de ir até Vila Nova de Fozcôa, uma vez mais realizei que hoje o Douro só de homens é fraco, tal a pujança da paisagem, a riqueza das cores, o vergar a que a Natureza se obrigou para dar corpo aquela a que Torga chamou a mais séria realidade de Portugal.
Dos mortórios de Gouvinhas e do Ferrão, às vinhas tiradas a régua e esquadro da Quinta do Seixo, aos geios espaçosos da vizinha Quinta da Corte, subindo o rio Torto até aos altos fraguedos da Pesqueira, terras do Marquês de Soveral e do Senhor Salvador do Mundo de onde se avista a Valeira, aos amendoais de Vilarouco e por fim às terras de vinho e de azeite do Douro Superior.
Dizia o fadista que Tudo isto existe, Tudo isto é triste, Tudo isto é fado.
Por mim, apenas digo que tudo isto é Douro.
E mais triste que o Douro de hoje, só a triste e fraca figura de alguns cavaleiros que, podendo, não querem varrer de vez a tristeza que perspassa por todo este pedaço de mundo e que só não impressiona quem nunca a sentiu de perto.
E, apesar de tudo isto, quando regressei, tinha em mim uma sensação de esperança (que, pela côr, cheguei a atribuir à besugal convivência...) mas que percebi surgir apenas da certeza de que o Douro, rio e região, é torto como um arroxo e há-de, no momento certo, zurzir sem dó os lombos daqueles que o tentam levar ao degredo.

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