Douro I
Quem, por estas alturas, percorrer os caminhos do Douro arrisca-se a dar de caras com algumas das mais poderosas imagens que esta terra tem para oferecer.Hoje, que tive de ir até Vila Nova de Fozcôa, uma vez mais realizei que hoje o Douro só de homens é fraco, tal a pujança da paisagem, a riqueza das cores, o vergar a que a Natureza se obrigou para dar corpo aquela a que Torga chamou a mais séria realidade de Portugal.
Dos mortórios de Gouvinhas e do Ferrão, às vinhas tiradas a régua e esquadro da Quinta do Seixo, aos geios espaçosos da vizinha Quinta da Corte, subindo o rio Torto até aos altos fraguedos da Pesqueira, terras do Marquês de Soveral e do Senhor Salvador do Mundo de onde se avista a Valeira, aos amendoais de Vilarouco e por fim às terras de vinho e de azeite do Douro Superior.
Dizia o fadista que Tudo isto existe, Tudo isto é triste, Tudo isto é fado.
Por mim, apenas digo que tudo isto é Douro.
E mais triste que o Douro de hoje, só a triste e fraca figura de alguns cavaleiros que, podendo, não querem varrer de vez a tristeza que perspassa por todo este pedaço de mundo e que só não impressiona quem nunca a sentiu de perto.
E, apesar de tudo isto, quando regressei, tinha em mim uma sensação de esperança (que, pela côr, cheguei a atribuir à besugal convivência...) mas que percebi surgir apenas da certeza de que o Douro, rio e região, é torto como um arroxo e há-de, no momento certo, zurzir sem dó os lombos daqueles que o tentam levar ao degredo.
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