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11.12.03

Serenidades

A lolita aconselhou serenidade aos médicos, sugerindo que não a percam quando um jurista lhes fala de negligência. E explicou porquê. E bem, acho eu.

Só que o Colega colocou a questão noutra vertente, lolita. Ele, como eu, está habituado a formidáveis títulos e mesquinhas entrelinhas sobre "mais um caso de negligência médica", em tudo o que é jornal, rádio ou televisão. A autos-de-fé escandalosamente públicos e impúdicos.
Desde os idos de Leonor Beleza (que, aliás, foi uma das pioneiras artífices da política restritiva à formação de novos clínicos e uma das responsáveis por variadíssimas agressões a médicos no seu local de trabalho, com o seu discurso populista e redutor) que a classe médica se vem habituando a esta ligeireza no (des)trato. Em que não se faz o mínimo esforço para entender (e explicar) a diferença entre o erro e a balda. Parece sempre balda, quando não é. E isso é cansativo e assustador. O que legitima atitudes defensivas.
Eu não defendo aqui (nem o colega defendeu) impunidades. Mas expresso, claramente, que se instalou um espírito de "quase inevitabilidade de culpa" na sociedade portuguesa, que não se esgota, sequer, no erro médico. Estende-se a tudo! E alguma comunicação social, que mais do que dar a notícia pretende, numa lógica interna de lucro, vendê-la, fomenta este estado de coisas.

Os portugueses tendem, nos últimos tempos, para uma espécie de fanatismo de que "a culpa não morrerá, nunca mais, solteira". Parecendo obcecados por um novo dogma: se algo correr mal, se der para o torto, alguém tem de ter A culpa! E esta predisposição "culpadora" não augura nada de bom, se se mantiver assim, fundamentalista. Porque culpar assim, desta forma inevitável, parece ter algo de "raivoso" e a raiva deve ser passageira para poder ser saudável. Encarada como transitório contraponto aos "brandos e permissivos costumes" de muitos e bolorentos anos, entende-se. E pode ser redentora, progressista, útil. Prolongada no tempo, hiperbolizada, como parece interessar a alguns, num país com cultura de "humildadezinhas" mas sem educação e sem tradição de tolerância, pode ser perigosa. E pouco inteligente.

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