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22.10.03

Uma carta à Lolita

Cara e querida Lolita:
Que recebas esta de saúde e que a bonomia te possua, sossegando por instantes a tua turbulenta índole.

Tu dizes que o PS não reconhece o desgaste, a incapacidade para manipular, desdobra-se em explicações, sublima contestações intestinas. Nem discuto. É discutível, mas leva lá a bicicleta. Por ser para ti, Lolita, uma bicicleta rosa, de senhora, para poderes andar de saia rodada.

Também afirmas que o PS teve azar, foi saloio e azelha, geriu mal o caso Pedroso. É a opinião que mais se ouve e lê, de facto. Mas eu sou teimoso. Uma opinião emitida por uma multidão (mesmo de gente bem vestida e cintilante) não me faz mais efeito nas meninges do que a mesma opinião sussurrada placidamente. Pode é enervar-me, assustar-me, fazer-me mal ao coração. "Caramba, tanta gente inteligente a dizer o mesmo, besugo!". Pois... mesmo assim. Mas podes levar, também, esta motocicleta, Lolita. É das de dar gás, podes conduzi-la em frente ao Molhe.

A seguir atiras este potente murro: "As escutas não podiam ter sido divulgadas, mas foram-no!" Ora bem, eu isto não discuto, até porque, como acabei de referir, não devia DE TODO haver escutas telefónicas. Fora esse princípio respeitado e nem sequer se colocaria o problema. Outra trotineta para ti, Lolita, daquelas da marina de Vilamoura. Não te distraias a olhar os iates.

Quanto ao restante da tua contundente prosa:
“...ninguém imagina um líder da oposição, com aspirações a formar futuramente governo e a chefiá-lo, num país europeu, democrático e ligeiramente desenvolvido (pelo menos de acordo com os critérios da UNESCO) que, um dia, chamou "merdas" aos juízes numa conversa privada que, sem que ele pudesse evitar, caiu nas bocas do povo que o elege(ria).”
Eu imagino. Não me parece que chamar merdas a um juiz, negligente ou imbecil a um médico, patife a um trolha, incompetente a um ministro, sevandija a um mancebo, pouco escrupuloso (ou mesmo tratante) a um jornalista, vigarista a um advogado, chusma de marrecos a um governo inteirinho, tudo isto EM PRIVADO, seja incompatível com altas funções de Estado. São desabafos. Que se ouvem todos os dias. Um presidente pode ser malcriado, basta ver o Alberto João. Se o problema dele fosse só a má-criação estava Portugal sossegado. Assim, só vendendo aquilo, como já sobejamente demonstrei ser vantajoso.
Tudo bem, mas tu vais mais longe! Tu afirmas que o principal problema nem é esse! É ter caído nas bocas do povo! Deixou de ser privado, logo existe! Ai, Lolita, Lolita. Tu nem te incomodas a discutir “como é que caiu nas bocas do povo”, fazes a apologia do “caiu, deixa cair...”. Olha, vai a Entre-os-Rios com esse discurso e logo vês.
Tu acabas de recriar um aforismo. Complexo. E divertido. “Quem cai nas bocas do povo nunca poderá chefiar governo de país europeu, democrático e ligeiramente desenvolvido... porque o país é isso mesmo: apenas ligeiramente desenvolvido, até porque acredita que quem cai nas bocas do povo nada vale.” Longo aforismo, menina azougada.
E aí pelo Uruguai? Manda notícias.

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