blog caliente.

13.4.04

Fim de férias

Portugal é um país rendilhado de auto-estradas e bordejado por marés. E é um país com imensas viaturas. E estações de serviço. E praias. E sol. E bom peixe. Pesca-se e come-se excelente peixe em Portugal. Estive a um pequeno passo de comer besugo! E, não fosse a Lolita segredar-me que "não sejas assim autofágico!", estaria agora aqui a partilhar convosco essa minha deprimente experiência.
OK, chega de poesia asfalto-piscícola.

Portugal tem, também, um excelente estádio para o Euro, o Alvalade XXI. Consta que os outros estádios, por dentro, também não são maus. Fizeram-nos assim um bocadinho horríveis e sensaborões, por fora, só para enganar. O do Dragão parece uma obra eternamente inacabada. O da Luz tem aquele aspecto sumptuoso de ... sacrário. Isso mesmo. Tem explicação: é lá que os benfiquistas se reunem nas suas liturgias de celebração retroactiva. O Paços de Ferreira é que ia estragando mais uma comunhão solene. Carpinteiros.

Por falar nisso, reparei que o Manolo veio falar de Páscoas e de sepsis. Aproveitou para, de passagem, deixar no ar a ideia (que lhe é cada vez mais grata) de que trabalha mais do que toda a gente. Sobretudo (e isto é um tema que, em ele estando para aí virado, poderá render gostosas discussões), mais do que eu. O que é um sofisma luso de vetusta idade: o luso, em se apanhando de serviço em Páscoas e Natais, fica nostálgico. Esquece-se de tudo, excepto disso mesmo: "Caramba, lá estou eu de serviço nesta quadra festiva, enquanto os outros, grandes sacanas, que não dão rigorosamente nada à instituição - diz isto com genuína e cega revolta resignada - estão a gozar aquilo que, por definição, não merecem!".
Este tipo de raciocínio é, em qualquer altura do ano, um bocadinho ... enfim... pascal.
Mas pronto: traduz uma forma de estar na vida, muito alicerçada numa elevada auto-estima que, quando cimentada com legítimo valor, se desculpa. Mais do que isso: se aceita e aplaude: "Tá bem, rapaz, tu és mesmo assim, que se há-de fazer? Anda lá com a tua vida".

Eu, culpado veraneante de Abril, tenciono sobreviver à dura penalização que me foi atribuída por ter tido uma semana de férias, trabalhando as setenta horas que me foram destinadas por "escala superior" nos próximos sete-dias-sete. É evidente que nada disto comoverá o Manolo. O Manolo, à força de esperar pela última badalada de sexta para se deliciar com folares de carne, já se comove com pouca coisa. E, mesmo assim, apenas se essa pouca coisa lhe acariciar o sofredor e proeminente umbigo.

Tenciono dizer isto (que não passa duma amigável provocação "minor", justificada por uma extrema acidez de "acabou-se o que era doce" que me aflige as entranhas), pessoalmente, ao Manolo. Já amanhã. A menos que ele esteja de férias. E as férias dele sim, como sempre, serão merecidas. E vincadamente insuficientes.

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