Pegai lá sabão e água
O Porto - Sporting foi um jogo em que aconteceram várias coisas, como é suposto acontecerem várias coisas nos jogos da bola, que foram estas:1- O Porto tentou entrar à Lagardère e não conseguiu, porque não joga que chegue para isso. O árbitro aqui é inocente.
2 - O Sporting tentou entrar à D'Artagnan, mas também não conseguiu, porque não joga que chegue para isso. E, também aqui, o árbitro é uma espécie de Cordeiro de Deus.
3 - Na primeira parte o Porto jogou melhor e até mandou uma bola à barra, ou seja, aquilo foi uma bola mal chutada, há quem diga estas coisas e eu nunca desminto ninguém que seja crente, mas se tem entrado - mas como foi mal chutada, repito, não entrou - daria o 1-0, mas não deu, lá está, não entrou, e não foi o árbitro que a tirou de lá de dentro, o árbitro só marcou o livre, que - por acaso - não era, aquilo não foi falta nenhuma, foi o Proença, escola dos Xistras, discípulo de Lucílio, e já começa agora a vir ao de cima o próprio Judas, esse, já montadinho no Cordeiro de Deus.
4 - Durante o jogo há uma patada do Quaresma e outra do Bosingwa, uma no Veloso e outra no Moutinho. O árbitro viu ambas, deu amarelos, é por que viu, está certo, foram amarelos, uma expulsão estragava o jogo, duas era uma coisa que só se viu (ampliada) quando o Sporting acabou com 8 jogadores nas Antas e mesmo assim empatou, "era uma possível influência directa no resultado". Inocente outra vez. Pobre Proença.
5 - O Sporting jogou melhor que o Porto na segunda parte e isso também não é culpa do árbitro, aconteceu assim. O Proença continua, até aqui, limpo, limpíssimo.
6 - Mas, lá está. Chegou aquele corte do Polga para trás, na direcção da baliza, o Stojkovic agarrou a bola, que ainda passou pelo Tonel e tudo, e agarrou-a muito bem, muito dentro das leis do jogo, aquilo foi um corte do defesa, não foi um "passe efectuado por um defesa, em posse da bola, ao guarda-redes", a bola, quem a levava, aliás, era o Postiga, mas o Proença marcou ali um "prrrriiiiip", tem sempre de haver um "prrriiiiip" destes quando se dá um apito a um Proença, e foi livre a... enfim, a um palmo da baliza.
7 - Claro que isto não é influenciar o resultado dum jogo. Não! Longíssimo disso! Era preciso marcar o golo, era muito difícil, e aquele mostruário de tatuagens que se chama Meireles meteu-a na baliza, à bola, bola bem chutada, "vai buscar". Eu marquei um golo assim difícil aos dezasseis meses, mas eu não conto, sou pouco dado a chutar ao lado desde cedo.
8 - Mas não era falta. Lá está, aqui é que ela bate: não era. Proença viu o que não podia ter visto, porque, simplesmente, não aconteceu. Erro grande, mesmo grande, enorme, é ver o que não há. Não ver o que há pode ser distracção, ver o que não há é diferente, é alucinação, coisa de doidos.
9 - Depois do jogo, tem-se falado muito do "erro de Stojkovic". Consta que Paulo Bento até terá tentado gritar, ou terá gritado mesmo, na altura, "chuta a bola!", mas isso não serve para nada como tentativa de desenforcar Proença: o guarda-redes agarrou a bola, podendo tê-la chutado, porque a verdade é que podia agarrá-la. Leis do jogo, niquices da FIFA, dantes até se podia atrasar ao guarda-redes, mas a verdade é que podia agarrá-la mesmo. O simples facto de poder ter despachado a bola para os camarotes dos VIP com um biqueiro e de, em vez disso, ter estado ali à espera até chegar o gajo do Porto para a agarrar, prova que o sérvio não se enganou, não traiu ninguém, fez o que eu faria - isto se não soubesse quem era o Proença, escola dos Xistras e discípulo de Lucílio, vassalo dos alucinogéneos da ribalta frouxa. Sim, senhoras e senhores, o resultado, vindo daquele livre, é falso como ele, o livre. E eficaz como Proença. Melhor ainda: é como Judas.
10 - É evidente que o livre mal assinalado (e bem marcado pelo jogador com mais tatuagens por centímetro quadrado da primeira liga) não influenciou o resultado do jogo. Não! Isto é certeiro. Tão certeiro como afirmar que os cartões vermelhos a Bosingwa e a Quaresma, que foram poupados a bem da verdade desportiva e da "não empolação dos incidentes avulsos", o não influenciariam também.
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