blog caliente.

7.7.05

mas não se pode ceder, isso é cada vez mais certo

Chateia-me isto dos atentados. Chateia-me que morram pessoas ao calhas, ou escolhidamente. Chateia-me que se reivindique a culpa da morte de pessoas. Chateia-me que, perante a morte de pessoas, se façam discursos sobre o ignóbil como se fosse possível moralizá-lo ou escarrar-lhe em cima, quando o ignóbil nos abraça num amplexo tão diário que é como se nos escarrássemos. Chateia-me ponderar o inevitável. Chateia-me a inutilidade das profilaxias, dos tratamentos, quando não mudam o prognóstico nem um pintelho. Chateia-me que se matem reféns. Chateia-me que se façam reféns. Chateia-me que se faça chorar pessoas. Chateia-me fazer chorar pessoas. Chateia-me que me façam chorar. Não gosto. Chateia-me que os meus filhos me façam perguntas a que já não consigo responder com um afago na cabeça e um "deixa lá".
Chateiam-me análises e sínteses, na mesma medida. Chateia-me discutir as discussões. Chateia-me ser dado a estados de alma. Chateiam-me os votos de pesar oficiais. E os oficiosos. Chateia-me ser um chato compulsivo. Se gostasse de chocolates comia dois, agora, mas não gosto, chateia-me aquele rasto castanho e mole que nos fica nos dedos e nos dentes, quando aquela merda acaba.
É como as lágrimas, fica-nos sempre um rasto delas, junto às olheiras, que nos trai o sorriso acastanhado de água e sal que encaixilhamos no cieiro dos beiços gretados.

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