blog caliente.

2.9.03

Estou melhor da falta de ar

Já me sinto melhor. Era só para comunicar isto, que já respiro bem, o que me parece relevante e, de certa maneira, vantajoso.

Por outro lado, aproveito para fazer notar que, em relação ao tema dominante neste local, a "problemática da cidadania, suas encruzilhadas com a democracia, o referendo e as legitimidades das massas" (não era isto?), penso o seguinte, assim numa efervescência vitamínica que já me acometeu noutras alturas, sempre com maus resultados:

1- Honestamente: quem não fosse capaz de justificar o seu sentido de voto, em qualquer eleição, pelo menos duma forma não hilariante (tipo: "eu vou votar no P. porque é o menos mau de todos" ou "eu voto sempre nos mesmos porque mudar não é comigo", ou mesmo "não percebo nada disto mas lá o votinho tenho de o deitar na urnazinha" devia ser convidado a exercer a sua cidadania em actividades mais úteis para todos, como por exemplo dedicar-se à auto-flagelação ou ao empilhamento de papiros. Lembrei-me de outras seví­cias, porventura mais adequadas, mas estas bastam.
Da mesma forma que quem não sabe tocar Mozart pode ficar-se pelo seu Chopin, quem não sabe votar (e não saber justificar um voto é não saber votar, é ao calhas) deveria ficar-se pelo domicílio e contar apenas para o recenseamento como "OAPI" (Objecto Animado, Porém Imbecil). Ficavam a ver os resultados na pantalhinha.

2 - O referendo é a negação da democracia. Tendo eu demonstrado sobejamente que a democracia, fundamentada no voto acessí­vel a quem não o sabe utilizar (partindo do princípio que votar não é só um mero acto mecânico de botar cruzes em papeluchos, dobrá-los em quatro e enfiá-los solenemente na caixola), é uma fraude (como sistema polí­tico que deveria ser baseado na humanidade, mas também na inteligência e na sabedoria), o referendo deve ser, então, uma maravilha da criatividade hodierna. Só que nos faz regressar ao fundo dos tempos com a tranquilidade dos boçais.
Senão vejamos: os eleitos da democracia, talvez sabedores do bambúrrio que os enfiou em hemiciclos e gabinetes onde se deve passar bastante bem, seguramente cientes de que quem os elegeu, na sua maioria, não entende "pescoço" do que andou a fazer, têm tendência a "ir mais longe". Eles, eleitos duma forma baseada em tudo o que se queira menos na honestidade intelectual, vocacionados para campanhas de bandeira e buzinão (a glorificação dos vencedores, em polí­tica, é sempre feita com muito barulho, o que só é aceitável no futebol e em toiradas), mas timoratos sempre que lhes cabe resolver temas tabu, eles, os eleitos resolvem... delegar. Será cómodo e seguro. Mas é, também, a antí­tese da democracia. Os eleitos foram-no para debater, decidir, executar. Não para, de cada vez que se lhes aperta o cuzinho, virem de novo perguntar aos mesmos cidadãos (sobretudo aos tais que nem votar deviam, por incompetência) o que hão-de fazer.
Proiba-se, pois, o referendo. Por duplicar a possibilidade de ter de acatar a opinião dos analfabetos funcionais. E aperfeiçoe-se a democracia.

Pronto, já disse. Aliás, eu nem sei muito bem o que vim aqui fazer... Talvez devesse ser mais coerente e deixar de vir...
:)

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